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Texto crítico para a individual “Cores e Nomes” na Galeria Archidy Picado, em João Pessoa, PB (2012).

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Cores e Nomes é composta por duas séries: uma de 50 desenhos que dá nome a exposição e outra de 25 pinturas intitulada Policromo Branco. Ambos surgem de uma coleção de amostras de tintas para parede que despertou em Leda Braga não só o interesse pelos nomes das cores, cada vez mais destituídos de objetividade, como também um questionamento sobre a fronteira da realidade objetiva, material e da imaterial e não visível.

                  Tradicionalmente as cores ganhavam nomes dos pigmentos com as quais as tintas eram produzidas. Hoje, com a diversidade de cores desenvolvidas pela indústria de pigmentos e com a velocidade com que são lançados no mercado, foi-se criando uma enormidade de nomes que, paradoxalmente se associam ao intangível e/ou extrapolam o universo da percepção cromática. 

Um dos impasses da contemporaneidade recai sobre a emergência de conclusões subjetivas advindas de um processo perceptivo da realidade ampliado por inovações tecnológicas e espaço-temporais sem precedentes. Essas inovações podem precarizar nossa percepção, mas podem também romper com “discursos” unidimensionais possibilitando inclusive formas outras de percepção do real.

Na série Cores e Nomes, Leda Braga acentua que o tangível oferece correspondentes objetivos e os nomes das cores pimenta do reino, pera madura ou coral laranja são expressivos neste sentido; sua relação é inquestionável pela gênese ou pela força da convenção.  Contudo, o tom provocativo da série recai sobre a intangibilidade que recebe cor, ou sobre o nome da cor que se associa a algo incorpóreo, destituído de nuance cromático.  Café místico, renda primorosa e sussurro são explorados pela artista como exemplos de nomes de cores que, ao se objetivarem em representações formais, faz incidir a atenção do observador justamente na forma, não mais na cor. O lirismo da série recai nessa paradoxalidade.

Se em Cores e Nomes Leda Braga alude à representação e em relações que lhes são extrínsecas, em Policromo Branco se atém à percepção visual da cor sempre particularizada pela historicidade do observador. Novamente aqui, vemos o predomínio da subjetividade.  Em uma variedade de tons brancos, a artista nos faz ver que até aquilo que se quer neutro permite grande diversidade. Nesta série, a ironia, marca da arte contemporânea, recai não só no nome da série – uma contraposição lexical – como também pelas legendas que asseguram legitimidade a cores atribuídas ao grau zero e ao silêncio absoluto da pintura: o Branco!

O que há de comum nas duas séries é a sutileza das incursões da artista no que se refere ao aparente desuso da objetividade e das pretensões norteadoras de nossas percepções sensíveis e inteligíveis. Contudo, essa sutileza é aparente uma vez que Leda Braga nos convida a contemplar sua arte com uma degustação de cores, como que num ritual em que se devora qualquer pretensão de embotamento da sensibilidade estética.

 

Ângela M. Rodrigues

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